Ofício encaminhado pela Secretaria de Infraestrutura e Recursos Hídricos para a Codecipe na quinta-feira (7) diz que a barragem poderá começar a transbordar quando atingir 198 metros de cota. Nesta segunda-feira (11), a cota estava em 193,43 metros
Moradores que vivem em torno da barragem sentem medo que a barragem transporte - FOTO: TV Jornal/Reprodução
Dona Nazidir da Silveira Ferreira mora no distrito de Serro Azul, em Palmares, há 60 anos. Casou-se na comunidade, viu o lugar crescer e acompanhou a construção da barragem, que também recebeu o nome do ex-governador Eduardo Campos. Nos últimos dias, ela tomou a difícil decisão de desmontar seus móveis e embalar seus pertences para deixar a casa junto com o marido.
Com residência vizinha ao paredão do reservatório, a aposentada preferiu adotar um comportamento cauteloso e sair antes de um possível transbordamento da barragem.
Aposentada vai sair de casa com medo da barragem - TV Jornal/Reprodução
Na semana que passou, Serro Azul foi motivo de polêmica, em função de informações desencontradas por parte do Governo de Pernambuco.
Na quinta-feira (7), a Secretaria de Infraestrutura e Recursos Hídricos (Seinfra) encaminhou ofício à Coordenadoria de Defesa Civil do Estado de Pernambuco (Codecipe) informando que a barragem poderia sangrar nos próximos dias, quando atingisse uma cota de 198 metros. Nesta segunda (11), segundo a Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac), a cota está em 193,43 metros.
A Codecipe entrou em contato com a Defesa Civil de Palmares e orientou que fizessem uma reunião com a comunidade para informar sobre o possível vertimento e orientar sobre as medidas a serem tomadas. A notícia foi publicada pela imprensa local e estadual. No sábado (9), a Apac desmentiu a informação, afirmando que tomou como base uma vistoria realizada no dia anterior.
A mudança de discurso soou, no mínimo, confusa. Na quarta alertam sobre o vertimento, na sexta fazem uma vistoria e, no sábado, voltam atrás no que foi dito à população. Toda essa situação provocou ainda mais insegurança para uma comunidade vulnerável, que já vive sobressaltada aos pés do paredão da barragem.
Emocionada, Dona Nazidir chora por ter que se despedir da sua casa em Serro Azul.
"Estou indo com o coração partido, mas estou indo. Porque a gente não confia nisso aqui", diz, fazendo referência à barragem. A aposentada não é a única a deixar o lugar. O próprio presidente da Associação de Moradores de Serro Azul, Elson Silva, também pediu guarida na casa do irmão em uma região mais alta.
"Falta informação por parte do governo do Estado para acalmar a população e explicar o que está acontecendo. Por isso, muitos moradores do Distrito estão indo embora. Eu e minha mãe fomos para a casa do meu irmão, na Vila Pena Branca", afirma.
Com o aumento das chuvas na Zona da Mata ao longo deste inverno, o volume de água na barragem aumentou e começou a sair pela chamada válvula dispersora, que fica na parte de baixo do reservatório.
"É um barulho bonito e assustador ao mesmo tempo para quem está perto", diz o professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Jaime Cabral. O especialista explica que a Barragem de Serro Azul é mais sofisticada, porque foi construída recentemente, com entrada em operação em 2017.
"As barragens mais simples só têm um vertedouro, enquanto Serro Azul possui vários vertedores", observa.
Além do dispersor na parte de baixo, também existe uma saída quadrada no meio da barragem e mais dois vertedores na parte de cima.
A previsão da Seinfra, apresentada no ofício, calcula que o reservatório sangraria no primeiro vertedouro quando alcançasse uma cota de 198 metros. Nesta segunda (11), Serro Azul estava com cota de 193,43 metros.
Moradores que vivem em torno da barragem sentem medo que a barragem transporte - TV Jornal/Reprodução
Cabral explica que o volume de chuvas na bacia hidrográfica local é que vai definir se a barragem vai transbordar ou não. E isso leva em consideração não só as chuvas no município de Palmares, onde está localizado o reservatório, mas em toda a bacia do Rio Una.
"Chuvas nos municípios de São Bento do Una, Capoeiras, Cachoeirinha, Altinho, Agrestina, São Joaquim do Monte, Belém de Maria e Bonito contribuem para elevar o nível de água na Barragem de Serro Azul. Por isso, pode acontecer de estar o maior sol em Palmares e ter cheia no rio, em função das outras cidades. Além disso, a barragem do Prata também fica em um afluente do Rio Una e, quando ela verte, a vazão que passa pelo vertedor contribui para encher o Rio Una", detalha. Neste momento, a Barragem do Prata, em Bonito, está vertendo.
De acordo com os dados da Apac, as chuvas diminuíram na região e a cota da barragem já não está subindo um metro por dia como vinha acontecendo. O que assusta os moradores, como Dona Nazidir, é a falta de informação consistente por parte do poder público para que a população se sinta mais segura. Afinal, Serro Azul é um reservatório com grande capacidade de acumulação de água e existe um número importante de famílias vivendo muito próximo ao paredão. Este, aliás, é outro problema que o governo de Pernambuco precisa resolver.
Via: jc
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