Enchentes em São Lourenço do Sul e Região Causam Alerta; Porto Alegre e Vale do Rio Pardo Enfrentam Desafios de Saúde e Logística
Imagens de satélite mostram avanço da mancha de sedimentos na Lagoa dos Patos — Foto: LODS/FURG/Divulgação |
Imagens do satélite Sentinel-3, analisadas pelo Laboratório de Oceanografia Dinâmica e por Satélites (LODS) da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), revelam um avanço significativo de sedimentos provenientes do Guaíba em direção à Lagoa dos Patos. Segundo os dados, entre segunda-feira (20) e a última sexta-feira (17), a "mancha" de sedimentos avançou 12 km ao Sul, conforme indicado pelas linhas vermelhas nas imagens analisadas. Este movimento sugere que a pluma de sedimentos continuará se espalhando em direção à margem Oeste da lagoa.
A Lagoa dos Patos é alimentada pelas águas do Guaíba, que, por sua vez, recebe contribuições de vários rios, incluindo Jacuí, Taquari, Caí, Sinos e Gravataí. Esse sistema hidrológico complexo transporta lodo e sedimentos, que, especialmente em períodos de enchentes, acabam se acumulando no Sul do estado. A análise das imagens de satélite não apenas permite monitorar esses movimentos, mas também auxilia na compreensão dos impactos ambientais e na gestão dos recursos hídricos da região.
Lagoa dos Patos — Foto: Reprodução/TV Globo |
De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), a possibilidade de novas inundações é muito alta devido às chuvas intensas que têm atingido a região. Esse cenário é particularmente preocupante para os municípios situados ao redor da Lagoa dos Patos, onde se prevê um volume de precipitação que pode chegar a 150 mm até sexta-feira, dia 24. Além disso, o Cemaden alerta que o risco hidrológico pode se agravar nas áreas próximas à lagoa, exacerbado pelas cheias elevadas do Guaíba, aumentando a vulnerabilidade das comunidades locais a desastres naturais.
Nível do Guaíba a cada dia
A situação da lagoa em São Lourenço do Sul permanece crítica, apesar de uma leve estabilização observada entre o final da segunda-feira (20) e esta terça-feira (21). O nível da água, que atualmente se encontra acima da cota de inundação de 1,30 metro, alcançou 2,67 metros. Na noite anterior, o índice era de 2,68 metros, indicando uma ligeira redução. Contudo, a marca mais alta registrada recentemente ocorreu em 19 de maio, quando a lagoa atingiu preocupantes 2,90 metros. Estes números refletem a gravidade da situação e a necessidade de monitoramento contínuo e de medidas preventivas para mitigar os impactos das enchentes na região.
Marcado Público de Rio Grande alagado pelas águas da Lagoa dos Patos — Foto: João Figueiredo/Divulgação |
A recente diminuição das águas permitiu que os comerciantes do Mercado Público de Rio Grande finalmente pudessem acessar o histórico edifício e iniciar os trabalhos de limpeza. Embora a calçada ainda esteja alagada, já é viável adentrar as bancas, marcando o início de um esforço coletivo para recuperar um dos pontos mais emblemáticos da cidade. Essa retomada não apenas simboliza a resiliência da comunidade local, mas também destaca a importância do Mercado Público como centro de atividade econômica e cultural. A recuperação do espaço é um passo crucial para a revitalização da área e o retorno à normalidade para os comerciantes e frequentadores.
Estrada aberta na região da Rodoviária de Porto Alegre — Foto: Giulian Serafim/PMPA |
"A gente chegou neste momento de limpar tudo, ver o que perdeu, como é que a gente consegue se reerguer a partir de agora", diz Gabriel Fredo, atendente de um bar no mercado.
A cidade de Rio Grande, conhecida por sua rica tradição pesqueira, enfrenta um momento de grande desafio. A Secretaria de Pesca do município relata que cinco restaurantes e doze bancas, que juntos empregam cerca de 60 funcionários, têm lutado para se manterem operacionais. Esta situação se agrava ainda mais diante dos danos causados por recentes eventos adversos, que, segundo autoridades locais, superam até mesmo os estragos provocados pela histórica cheia de 1941. A resiliência da comunidade pesqueira está sendo posta à prova, à medida que busca superar estas dificuldades e manter viva a economia local baseada no pescado.
Na última terça-feira, o estado do Rio Grande do Sul registrou um total de 161 vítimas fatais devido aos temporais e enchentes que atingiram a região. Além disso, 85 pessoas permanecem desaparecidas, 806 ficaram feridas, e aproximadamente 654.100 indivíduos foram forçados a abandonar suas casas. A situação é alarmante e o impacto do desastre é sentido por milhares de famílias que lutam para reconstruir suas vidas em meio à devastação.
Base Aérea de Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre — Foto: Reprodução/RBS TV |
Em Porto Alegre, os esforços de limpeza continuam intensamente. Desde o início das operações em 10 de maio, mais de 2.400 toneladas de resíduos foram removidas das ruas, incluindo móveis danificados e lodo acumulado. Esses resíduos são inicialmente levados para pontos de coleta dentro dos bairros e, posteriormente, transportados para unidades provisórias nas zonas Norte, Leste e Sul da cidade, antes de serem destinados ao Aterro de Inertes.
Rodovia em Picada Mariante, no município de Venâncio Aires — Foto: Fábio Tito/g1
O nível do Guaíba, que chegou a 4,02 metros na tarde de terça-feira, apresenta uma leve redução, sendo o menor desde 2 de maio. No entanto, o Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS alerta que o vento sul previsto para sexta-feira, juntamente com chuvas adicionais, pode causar nova elevação dos níveis das águas, prolongando a cheia.
Um estudo do Observatório das Metrópoles destaca que as áreas mais afetadas são as que abrigam a população de baixa renda. Em Porto Alegre, mais de 157.700 pessoas foram diretamente impactadas pela enchente, com 39.400 edificações atingidas. Muitas dessas famílias enfrentam a perda total de suas residências, sem ter para onde retornar. Estima-se que cerca de 20.000 pessoas estejam nesta situação.
Além dos desafios urbanos, a região metropolitana de Canoas se adapta para receber voos comerciais na Base Aérea, com o ParkShopping Canoas servindo como ponto de embarque e desembarque, devido à impossibilidade de operações no Aeroporto Internacional Salgado Filho.
A situação sanitária também é crítica, com a confirmação de mortes por leptospirose em Venâncio Aires e Travesseiro, ressaltando os riscos de doenças transmitidas pela água contaminada.
Esse cenário desafiador requer uma resposta rápida e eficaz das autoridades, além de solidariedade e resiliência da população afetada para superar as dificuldades impostas pelas enchentes.
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